Um Horizonte de Lutas para Além da Ação Sindical

 


Nota de apoio e solidariedade aos professores do Estado do Ceará e demais trabalhadores em luta no país. Do que tem medo a burocracia?


Diante do ocorrido na assembleia dos professores do Estado do Ceará no dia 04 de abril, viemos a público manifestar nosso apoio e solidariedade aos trabalhadores que estão sendo criminalizados pela burocracia sindical da Apeoc.

Conforme vídeos divulgados nas redes sociais e relatos dos professores podemos constatar que ao perder sua legitimidade a burocracia apelou para a força física através de seus capangas. A resposta foi a ira dos trabalhadores, que se revoltaram contra uma tentativa de golpe de encerrar a assembleia sem votar a pauta da greve. Essas e outras manobras não são novidades no movimento sindical; a questão, porém, é que dessa vez a burocracia se viu em maus lençóis e foi expulsa do local junto com seus "seguranças". Após o ocorrido, a burocracia da Apeoc buscou apoio de outros sindicatos e entidades burocráticas a fim de minar a categoria e o movimento grevista de vários setores que vêm se espalhando pelo país. Ao mesmo tempo, tenta se fortalecer ameaçando e caluniando os professores, chamando-os de "fascistas". Os capachos da burguesia sempre fazem isso quando se veem ameaçados pelos trabalhadores.

Em ano de eleição as animosidades da burocracia contra os trabalhadores são mais evidentes, deixando claro seus reais interesses ao apelar para a força física. Isso, no entanto, não impediu que os professores da rede estadual se manifestassem, mostrando o quanto estão dispostos a lutar por seus direitos. Também não vão aceitar as manobras dos burocratas para impedir a deflagração da greve - ferramenta histórica de luta dos trabalhadores.

Esse ato de coragem demonstra uma ruptura, ainda que embrionária, com a ideologia de representação política, colocando a burocracia e a burguesia em sinal de alerta redobrada, bem como aqueles que disputam o sindicato e se colocam como "oposição". Nenhuma ilusão com os ditos “combativos” de plantão, que usam os trabalhadores para desgastar a direção e tomar o sindicato. Esse movimento de ruptura pode ser o estopim de levantes e protestos mais acirrados, prejudicando assim as eleições municipais que se aproximam e as disputas por cargos e privilégios dentro e fora do Estado. Eis porque precisa ser criminalizado pela burocracia e eis porque nós nos unimos para fortalecer os que lutam e ajudar a combater os contrarrevolucionários de todas as siglas. Ainda que se digam "dos trabalhadores", "socialistas", "comunistas", todos os partidos políticos servem única e exclusivamente aos seus próprios interesses: garantir as tarefas políticas para a manutenção do capitalismo.

Sabemos todos que os sindicatos são organizações burocráticas e têm como função apassivar os trabalhadores para que aceitem sua exploração ou subalternização sem questionar as decisões tomadas por seus "representantes legais". Essa mediação burocrática nada mais é que a forma mais eficaz da burguesia de manter as ilusões democráticas. Em outras palavras: sindicatos e partidos políticos são organizações burocráticas e expressão da política burguesa.

Uma vez que todos aqueles que vão contra a representação política são acusados de arruaceiros, vândalos e antidemocráticos pela burocracia, vale a reflexão sobre o que é realmente a democracia e seus limites para o avanço da emancipação dos trabalhadores. A democracia (tão defendida) nada mais é do que a forma política mais adequada à reprodução do capital. Lula deixou claro em seu discurso de posse que não vai tolerar nenhuma ameaça à “frágil democracia”. Por detrás dessa demagogia, o medo é de perder aliados para seu frágil mandato caso não consiga controlar os trabalhadores através dos sindicatos e centrais sindicais, como a CUT, cria do PT, que movimenta milhões às custas da exploração da força de trabalho. Lula foi eleito com pequena margem de votos para seu adversário nas urnas. Mas adversário nas urnas não é sinônimo de inimigo político. Todos os políticos profissionais são farinha do mesmo saco e representam os mesmos interesses: a manutenção do poder e a preservação da exploração capitalista.

Dando prosseguimento às políticas do governo bolsonarista neoliberal que lhe antecedeu, Lula e seus ministros executam políticas que possuem o objetivo de atender a classe capitalista e suas frações (o capital bancário, industrial, etc.). Nesse quesito, áreas que estavam precarizadas, como educação e saúde, tornam-se ainda mais precárias, inviabilizando a sua reprodução em certas regiões e contextos da sociedade brasileira.

Desse modo, o governo Lula é tão somente uma continuação da mesma dinâmica política existente no governo Bolsonaro, porém com um tom mais moderado e "conciliador". As aulas no movimento sindical foram de "grande valia" e um trampolim para sua progressiva ascensão ao poder do Estado. Os ataques aos direitos e condições de vida das classes trabalhadoras, bem como de diversos outros grupos sociais, continuam a todo vapor. E esses ataques atingem também a educação, apresentando no horizonte um futuro obscuro e desanimador. Dentre as políticas do governo neoliberal de Lula, destaca-se a política de orçamento fiscal restritivo (o “arcabouço fiscal”). O arcabouço fiscal nada mais é do que um instrumento de austeridade, isto é, contenção de gastos, restringindo principalmente os gastos primários, como em saúde, educação, previdência etc. Ou seja, os interesses da burocracia e da burguesia seguem intactos, o que revela o caráter de classe dessa austeridade fiscal, uma vez que só atinge o conjunto das classes inferiores, tornando suas vidas ainda mais miseráveis.

O contrário de democracia não é ditadura, mas autogestão social. A democracia é a ditadura oculta da classe capitalista. A autogestão põe em xeque a relação entre dirigentes e dirigidos e destrói as bases da exploração da força de trabalho. É através da autogestão das lutas que os trabalhadores avançam para uma consciência da sua miserável existência e encontram o caminho para sua libertação. Portanto, essa falsa dicotomia entre democracia e ditadura só serve àqueles que têm por objetivo disputar o poder, e não destruí-lo, mantendo assim a exploração dos trabalhadores. E ela se aprofunda cada vez mais: seja sob uma bandeira verde e amarela, seja sob uma bandeira vermelha. Aos trabalhadores pouco importa essa disputa, o que interessa realmente é o poder de decisão sobre suas próprias vidas. E isso os professores do Estado do Ceará demonstraram na prática ao confrontar os burocratas e mostrar que a correlação de forças se dá na luta e não dentro dos gabinetes. O que realmente interessa a esses farsantes é o quanto cada um vai lucrar com a exploração dos que trabalham.

Todo apoio aos que lutam e não se deixam intimidar com as ameaças da burocracia!

Viva a luta e a autogestão social!


MOVAUT - Movimento Autogestionário

10 de Abril, 2024.